terça-feira, 15 de março de 2011

Nas águas de março, lanço meu olhar da janela do ônibus sobre os municípios de Vitória e de Vila Velha

Fazia tempo que eu não via a metrópole das janelas do buzão. Por mais crítica que se possa aplicar ao sistema Transcol, gerenciado pela Ceturb-GV/Governo do Estado, afinal nem rascunho dos tais corredores exclusivos, somente obras e os temporais catastróficos para tumultuarem ainda mais a nossa imobilidade-de-todos-dias, ele conseguiu superar as adversidades da metrópole que cresce sem planejamento, sem debate, principalmente, dos gestores do aglomerado urbano da Grande Vitória; aglomerado que deu origem a Região Metropolitana da Grande Vitória, o qual incluiu (?) os municípios de Fundão e de Guarapari.

Meu destino Barra do Jucu, em Vila Velha. Ponto de embarque Av. Jerônimo Monteiro, Vitória/centro. Opção: por motivos óbvios qualquer linha que não passasse pelo terminal de São Torquato, preferência para a linha 557 com itinerário via rodovia Darly Santos com destino ao terminal de Itaparica.

No Caminho até o ponto, observo as condições de abandono da cidade que muitos gestores lhe prometeram revitalizar, contudo, permanece sendo a Geni do Chico. As obras na Praça Costa Pereira, por exemplo, desafiam a inteligência do contribuinte: quando todos pensavam que as obras iriam terminar, enxergamo-las terminando de aniquilar com a cidade, o comércio no outrora shopping aberto do centro, quase não pulsa. O desnível do calçadão em frente ao caldo-de-cana da praça é a bola da vez; lagos foram formados na superfície desnivelada, que se juntam aos tsunamis oriundos das poças das obras Cesan/Odebrechet, respigando calças e pés; alguns pés descalços, mas mesmo os calçados, encharcados.

A ameaça de temporal fez com que muitas pessoas optassem pelos transportes públicos de passageiros, o popular Transcol, afinal, fica difícil não considerar as armadilhas, muitas delas camufladas em pontos oceânicos de alagamento; meu receio estava na rodovia Carlos Lindenberg. O serviço de transportes públicos de passageiros oferecidos no equipamento ônibus, pelo menos nesse mês de março, identificado poeticamente como período das águas consegue se destacar de formas positiva, mesmo com o isolamento da população de Viana verificado no último domingo (13).

A chuva aumenta e altero minha rota para o terminal Ibes, no caminho as temidas oceânicas poças da rodovia Carlos Lindenberg; situação pior no sentido Vitória: de dentro do transcolzão observo carros de passeio em condições de naufrágio balançando nas marolas produzidas pela passagem de veículos maiores, o que já desperta à necessidade de meu retorno via 3ª Ponte. Por muito pouco passamos os pontos críticos, a ameaça ficou por conta das doenças respiratórias; no interior do veículo compactando corpos quentes aumentava a umidade por conta das janelas fechadas: bafejos em forma de nuvens fugiam de bocas diversas, misturando-se a outros neblinosos bafejos, embaçando meus óculos. Quase chegando ao terminal do Ibes, o celular responde as minhas preces: reunião cancelada por conta da chuva.

Decidido a retornar via 3ª Ponte, resolvo continuar a apreciação da gestão das cidades da janela do buzão, dessa vez em Vila velha; o trajeto escolhido: linha 606 com itinerário Santa Inês/Santa Mônica/Coqueiral de Itaparica/terminal de Vila Velha, com o propósito de utilização da linha 514 – 3ª Ponte via Beira Mar esperando desestressar com a vista de Vitória do alto da ponte. No percurso inicial, o visível abandono do município de Vila Velha, com terrenos tomados pelo lixo e mato, tornando-se celeiros dos mosquitos transmissores da dengue. Passando em frente ao Centro Universitário de Vila Velha (UVV) uma possível solução: um novo fórum está sendo construído, mas o tapume erguido impede, mesmo de dentro do ônibus, enxergar o custo da obra. E dizem que existe uma lei que obriga a instalação de placas informativas sobre obras públicas em locais de fácil visualização.

Chego ao terminal de Vila Velha, e por sorte, o ônibus que cumprirá o trajeto de retorno ao centro de Vitória já está prestes a partir. Embarco com as imagens que há tempos minha direção individual havia atropelado; perdemos grande parte de nossa percepção de gestão de nossas vidas quando nos isolamos em nossos individuais meios de transporte.

Antes de desembarcar na Av. Jerônimo Monteiro duas situações de abandono consolidam o abandono do centro: Casa Porto das Artes Plásticas, antiga sede da capitania dos portos com parte de seu reboco da fachada caído ao chão, que tristeza; mais a frente, a Fafi de tantas e tantas manifestações culturais, com seu palco externo que se transformou em estacionamento.

Que dia! Espero que o buteco do Gêge esteja aberto, preciso de uma cerveja para ajudar a descer as gestões, as quais, espero, acabem na privada.




3 comentários:

História Corrente disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
História Corrente disse...

Nandão... lendo o seu relato, me lembrei do texto de Luis Fernando Veríssimo... "um dia de merda"...kkkk eu sei que não tem nada haver, mas que me lembrei eu lembrei...rs

mas veja bem, esta questão atinge a maioria das metrópoles brasileiras, pela falta de planejamento, pelo crescimento desordenado... e outros fatores que bem sabemos e que dependem da boa vontade de nossos governantes para resolvê-los. Mas gostaria de apontar aqui um local específico, que aliás, frequento há anos, mas que de uns tempos pra cá, tem sofrido com a negligência e a falta de compromisso do poder publico de Vitória. Falo de Guarapari. Praia do Morro. Da última vez que estive lá, fiquei muito decepcionada com tudo. Com a praia, com o transito... me senti como se estivesse aqui...rsrs afinal, enfrento um chão pra chegar à beira do mar... e quando chego, encontro uma cidade largada às moscas, uma praia extremamente suja...e esta é a nossa praia...a praia dos mineiros...

Gi disse...

Amigo, essa foi sem dúvida a melhor descrição que já li sobre o transporte coletivo e a (des)administração existente nos municípios da GV. É simplesmente vergonhoso! lastimável!
Quisera eu que nossos amáveis governantes pudessem repetir, pelo menos uma vez, esse "prazeroso passeio" que você realizou. Quem sabe após sentir na pele as consequencias de seus descasos ele começassem pelo menos a olhar para a Administração Pública com outros olhos, que não os do bolso...rs.

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