quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Descoloriu o céu em julho


Crianças não soltam mais pipa, proibiram o cerol. Cerol que fazia outras crianças correrem em algazarra por ruas, becos e caminhos; equilibrando-se em cima de muros enquanto cães raivosos saltavam feito pipoca, buscando frágeis ágeis pés.

- Sem cerol, seu polícia, não tem graça! Perde-se a emoção do “cerol fininho”.

Depois de fazer a festa de alguns que não tinham condições financeiras para comprar um "pipaço", antes de refletirmos sobre o papel do Estado/Sistema, cruzar pipas degola velozes motociclistas.

- O cruzo, seu guarda, é maestria na arte de dibicar a pipa, conduzindo o adversário ao erro. E o senhor não imagina a emoção em cortar e ficar observando do alto, crianças, feito formigas, correndo entre becos para a “colônia” pipa.

Em vez de leis para adequação da indústria de motos para hábitos centenários do povo, em especial o da periferia, vemos nossas crianças, que antes soltavam pipas, mas desde ontem estão sendo mortas por balas; algumas perdidas que ninguém desejaria encontrar.

Balas do Estado, do bandido e do tráfico, e certamente, balas produzida pelo Sistema que não permite mais soltar pipa com cerol, que não retirou o capacete de motociclistas que usam motos como instrumento do crime. Alguns motociclistas até atiram. Algumas vezes em crianças, mas essas, soltam pipa. 

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O desrespeito à história dos catraieros capixabas


Catraia, segundo o dicionários Houaiss significa embarcação miúda e robusta , de duas proas para serviço nos portos, praticagem e pesca. Aqui na capital do pré-sal, Vitória-ES, catraia remete ao transporte feitos na travessia do continente Vila Velha à Ilha de Vitória (capital-ES) desde a década de 60, segundo os mais antigos, a atividade tem como básico, não só braços fortes, mas sobretudo, o conhecimento do movimento das marés.

Há registro de atividade de catraia no início do século XIX, quando a dinâmica econômica das cidades e povoados costeiros eram abastecidos, pelos catraieiros, alguns vindos de bem longe trazendo frutas, verduras e carne animal. A construção de todas as instalações portuárias na costa brasileira também contou com essa importante atividade, que alguns chegam a arriscar ser a primeira atividade econômica individual nos mares brasileiros.

Contudo, o desenvolvimento globalizado, embora no passado necessitou dos braços dos pequenos caiçaras que fizeram da atividade de catraia seu sustento, hoje enxergam os pequenos barcos como entraves do progresso. Aqui no Espírito Santo a administração da Codesa (PSB/PT) tratou de dificultar essa importante e cultural atividade. Da noite para o dia, instalaram bóias ligadas em cabos de aços, delimitando a área de atuação de catraia; e sem discutir com os catraieiros escolheram um local que para embarque e desembarque na capital que dependendo da maré (correnteza) quase que quadruplica o esforço na travessia.

Para piorar, a situação da atividade dos catraieiros, o atracamento em Paul está cada vez mais dificultado; tomaram uma rua, em “troca” de uma passarela com sua estrutura exposta sendo corroída pela ações da maresia. Corrosão que já se anuncia na nova e frágil estrutura instalada pelos ditadores do progresso, no lado de Vitória. Isso tudo, sob o silêncio da mídia comercial capixaba, que não houve os gritos de uma atividade raiz de mobilidade, ligando o continente à ilha capital; atividade que transporta em média diariamente 800 passageiros, os quais se encontram livres da imobilidade dos transportes públicos sobre rodas, agregando em seus deslocamentos de ida e volta a necessária qualidade de vida, cada vez mais precária face à políticas de desenvolvimentos não sustentáveis do ponto de vista ambiental.

Pelo que se observa na ampliação da área portuária, tanto do lado de Paul/Argolas (continente), quanto da área localizada na ilha-capital, podemos supor que o extinto sistema de transporte aquaviário utilizando o amplo espelho d’água talvez tivesse nascido com certidão de óbito pré-estabelecida.

Abaixo curta o espetacular vídeo documentário realizado em 2007:

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Fora dos trilhos

Recentemente, por conta da careta do Willian Bonner noticiando “baderna” dos usuários de transporte sobre trilhos na cidade do Rio de Janeiro e contidos pelas balas de borracha da policia militar; por duvidar da forma em que o conteúdo foi abordado, iniciei uma rápida pesquisa sobre o sistema de mobilidade da Cidade Maravilhosa.  

A dúvida sobre os trejeitos do apresentador âncora do Jornal Nacional, não ocorreu por conta de seu histórico de caras e caretas apresentando o JN, mas pela raiz histórica da emissora-empresa que negou As Diretas Já ao povo brasileiro. As imagens mostraram além dos disparos de bombas e balas de borracha, o sucateamento da frota e da malha ferroviária fluminense, há tempos sob concessão da Supervia. 

Embora a ação da polícia tenha sido desproporcional, não se tratava de baderna, mas tão somente da revolta explícita dos usuários, por conta de efeitos colaterais históricos de anos e anos de (indi)gestão pública (des)focada da mobilidade urbana. 

Sua fala, Willian, propositalmente esqueceu do histórico. Mas tinha imagens. Vai dizer que você não observou que os trens apresentavam sinais de sucateamento agudo? E a malha ferroviária em caos total, pedaços de trilhos indicando lugar algum, você viu? Claro que você arrumaria um jeito de colocar a culpa nos meliantes que roubam fios nas ferrovias. Espero que tenha acordado cedo para assistir ao Chico Pinheiro dando seu show de conhecimento das necessidades históricas das massas no Bom dia Brasil.

Imagine Bonner sair de casa cedinho para trabalhar, aliás, de madrugada. Disputar espaço entre cotovelos e sovacos, lembrado de não levantar um dos pés para coçar a perna, pois não encontrará espaço para retorno. E a volta? Imagine sair do trabalho sem previsão de chegar ao lar. O desconforto por conta das superlotações nos vários moldais privados concessionários, acredito, o povo há anos vêm tirando de letra. O problema é a insegurança de cumprimento de horário somada à dependência da gestão pública cegada na visão privada de exploração de um serviço essencialmente social, e que deveria estar ligado a outros meios alternativos.

A revolta nos trens do Rio sinaliza pedido de socorro às gestões públicas. Pedido não só ao poder executivo, mas aos demais. O histórico de concessão da malha ferroviária carioca para a Supervia, vai até o ano 2048. Prorrogação feita pelo governo de Cabral (PMDB) no final de novembro de 2010, e que só contará a partir de 2023, quando termina a concessão feita em 1998 pelo governo de Marcello Alencar (PSDB). Até lá muitas revoltosas badernas ao som de tiros de bala de borracha surgirão, e as melhorias ficarão para uma nova concessão, sob o silêncio do legislativo, e claro, do judiciário; prevalecendo a verdade na convicta careta do Willian Bonner anunciando mais um ato de vandalismo diante de um cenário cada vez mais laboratório de revoltas populares. 

Sabe Willian, às vezes penso que tudo não passa de uma sinfonia orquestrada para os rombos do PAC da Copa, que por tabela vai privatizando em forma de concessão serviços públicos essenciais; a maioria de responsabilidade do Estado que há décadas deu às costas para as necessidades básicas da população, como o direito a um serviço de transporte público com conforto, segurança, e claro, pontualidade. 


O povo fluminense aguarda para que os 30 novos trens da China subam nos trilhos, assim como a concessionária Supervia aguarda pelo BNDES o financiamento de R$800 milhões, representando 65% do total de R$1,24 bilhão que a companhia se comprometeu investir até 2020.

Seu candidato a presidente tem a coragem que o povo brasileiro necessita?

Eis que no Brasil golpeado por traidores, surge como salvação da pátria roubada a proposta de ampliação de escolas militares. Vão espalha...